
(Foto: jennycepeda/Pixabay)
O uso das redes sociais não se restringe aos comentários políticos, entre os quais uma grande parte são interpretações falsas com objetivo partidário. Numerosos canais se dedicam ao setor da saúde, podendo ser simples conselhos sem grande importância ou indicação de chás calmantes ou para bem dormir.
Entretanto, o surgimento da inteligência artificial vem facilitando a criação de canais destinados à saúde, onde vozes artificiais e figuras vestidas de branco com medidores de pressão no pescoço fazem as vezes de médicos inexistentes. No YouTube, o objetivo seria o de obter milhares de inscritos com o à monetização ou a uma discreta indicação de produtos à venda.
Isso já tem sido denunciado pela imprensa, porém desta vez é um médico cardiologista de Brasília, André Wambier, quem deu o alerta, valendo-se de sua notoriedade com seus 5,5 milhões de inscritos no seu canal. “Eu cansei de ver canais sem qualquer credibilidade espalhando absurdos sobre saúde e colocando sua saúde em risco.”
Esse abuso não ocorre apenas nos canais das redes sociais brasileiras. A Agência portuguesa Lusa alerta pelo Sic Notícias quanto à existência no TikTok de profissionais de saúde gerados por Inteligência Artificial promovendo desinformação médica. Os médicos de blusa branca são deepfakes manipulados na imagem e na voz para difundir falsas informações.
Assim, existe praticamente uma campanha ou um grupo especializado na criação e manutenção desses deepfakes, com o objetivo de vender suplementos ou produtos médicos como sendo recomendações legítimas. Para tanto, utilizam a figura falsa de um médico, apresentado como bastante experiente. Para um observador atento, a imitação de médico tem expressões faciais pouco naturais e a voz, embora imite a de um bom locutor, soa como artificial ou robótica.
No Brasil, alguns desses canais de aconselhamento médico só têm a voz robótica, que se atrapalha ao chegar nas vírgulas dos textos que recita, enquanto na tela aparecem paisagens naturais, florestas, praias ou montanhas com fundo musical. Nada a ver com saúde, pura enganação.
No seu alerta, o cardiologista André Wambier mostra, no seu YouTube, o canal da Dra. Laura Vasconcelos, no Instagram, no qual não consta um documento essencial ao exercício da medicina, o registro CRM, do Conselho Regional de Medicina.
Entretanto, o YouTube mais importante indicado é o da Dra. Juliana, sem sobrenome e sem registro CRM. Sua voz soa falsa como a do GPS no carro e em quase todos os vídeos aparece o título “Eu suplico” ou “Eu imploro” em letras maiúsculas.
A robô Juliana, avatar digital, tem sempre a mesma posição na tela e suas mãos repetem sempre o mesmo movimento. “Esses canais colocam no ar diversos vídeos por dia, são verdadeiras fábricas de mentira!”, diz o cardiologista André Wambier, CRM 17276 DF. Para ele, esses canais usam o medo e a curiosidade mórbida para atrair as pessoas a uma teia de mentiras e desinformação. “Esses canais são uma mistureba indigesta de informações superficiais e rasas”, diz ele.
Cardiologista André Vambier – https://www.youtube.com/watch?v=hp1qeLzyfHo
Estado de Minas – https://observatoriodaimprensa-br.spinforma.net/emfoco/2025/04/19/deepfake-inteligencia-artificial-esta-criando-falsos-medicos-para-te-enganar/
Dra. Laura Vasconcelos – https://www.instagram.com/p/DCR-xONQR/?hl=fr&img_index=1
Dra. Juliana – https://www.youtube.com/@Dra.JulianaSa%C3%BAdeTodoDia
***
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.