Sábado, 14 de junho de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1342

Quadro de nudez pode provocar mudança de regra em redes sociais 4q1t2q

Em um processo que se arrasta há quatro anos, um professor francês de história da arte disputa com o Facebook o direito de exibir uma pintura de nudez do século 19: “A Origem do Mundo”, que mostra o torso deitado de uma mulher nua de pernas abertas, do pintor romântico Gustave Courbet (1819-1877).

Exposta no Museu D’Orsay, em Paris, a obra foi publicada por Frédéric Durand-Baïssas em sua página pessoal no Facebook em 2011, o que o levou a ser expulso da rede social, sob acusação de promover a pornografia.

Mais que uma discussão sobre pornografia nas redes sociais –de lá pra cá o Facebook flexibilizou um pouco as regras e liberou o uso de imagens de obras de arte eróticas e de mães amamentando–, o que está em jogo é a possibilidade de internautas ses terem seus direitos assegurados em empresas cuja sede está fora do país.

Em janeiro, a defesa do Facebook argumentou que, ao se inscrever, o usuário concorda com os “termos de uso” e que lá está escrito que a jurisdição da empresa fica na Califórnia. A França não teria, portanto, o direito de interferir nas regras da empresa.

O argumento foi rejeitado recentemente pela alta corte em Paris, que considerou a cláusula “abusiva”.

Para a corte, a cláusula viola o código de defesa do consumidor do país na medida em que torna impossível para os ses entrar com ação contra a empresa. A lei sa proíbe cláusulas que vedam a possibilidade de um consumidor entrar com ação.

Na quinta (21), houve mais uma audiência sobre o caso, mas basicamente para tratar de questões processuais.

Na ação, o professor pede € 20 mil (R$ 68 mil) de indenização e acusa o Facebook de não distinguir pornografia de arte.

Se a decisão for favorável ao professor, o caso pode ter outra implicação, relativa aos termos de uso. Pode uma empresa obrigar o consumidor a aderir a suas regras, mesmo que a pessoa tenha clicado na caixinha de “estou de acordo”? Isso poderá levar o Facebook –e outros gigantes de tecnologia– a ter de produzir termos de usos para cada país, respeitando regras locais.

Outras ações

A disputa sobre as regras do Facebook é mais um embate entre gigantes de tecnologia e governos europeus (veja quadro ao lado).

A União Europeia está refazendo a sua legislação sobre privacidade e deve incluir multas para quem não assegurar o direito de cidadãos de não ter informações a seu respeito expostas na internet.

Em outra frente, o Google está sendo processado pelo órgão europeu de defesa da concorrência por abuso de poder econômico ao privilegiar a sua própria ferramenta de comparação de preços, em detrimento de concorrentes.

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Mariana Barbosa, para a Folha de S.Paulo